Ela é que dita as regras. Também não admira: não tem concorrência. As outras mulheres ou são mais feias ou mais velhas ou mais feias e mais velhas do que ela. A Marlene sabe tudo sobre toda a gente. Especialmente quem bateu as botas e quem anda a pôr os cornos a quem. Ali, naquele pardieiro que ela trata como se fosse a sua horta, só ela pode ser perversa. Reparem como ela despachou um pobre-diabo que desconhecia a senhora da casa:
- Nas festas da Senhora da Guia [não sei se era da guia, da agonia, das dores ou da aparecida, mas é indiferente para o caso e a senhora é a mesma] queres beber uns copos comigo?, pergunta o incauto.
- Foda-se!
- Então, tens medo de ficar em coma?
- Só assim é que saía de casa para estar contigo: se estivesse em coma! És feio que puta-que-pariu.
A Marlene, que é solteira e vive com o pai, é assim com homens e mulheres. O gabinete para igualdade de género, essa coisa tão burguesa, é, de facto, ali, naquele café de aldeia. E a chefe de repartição é, de facto, aquela rapariga. Feia, boa e com uma boca do tamanho do olho do furacão Katrina. Nunca mais me esqueço do que ela disse à coleguinha [mais lenta, menos feia e muito menos boa do que ela] que trocava de turno com ela: "Não sabia que pagavam salário para andarem a roçar a rata pelo balcão."